Esquecer tristezas profundas ou situações inoportunas para algumas pessoas é um sonho quase impossível. No entanto, para outros, a sina é conviver com o esquecimento como algo natural, pois são vítimas da Doença de Alzheimer (DA), um mal que afeta não apenas a área cognitiva, mas também a comportamental de mais de um milhão de brasileiros.
E há cerca de 25 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que esperam uma solução para combater a causa deste dano, que leva ao esquecimento e à degeneração do sistema nervoso central de forma implacável.
Por outro lado, centenas de pesquisas estão em andamento e a esperança é encontrar, em breve, algo que faça a doença não só ser estagnada, mas curada. E, principalmente, que se possa prevenir o surgimento da DA. Para o neurocirurgião Antônio de Salles, do Hospital do Coração, de São Paulo, o fato da doença ser a principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos, no Brasil, torna premente que se identifique ferramentas capazes de diagnosticar a doença com precisão e precocidade.
Neste sentido, já existem alguns estudos avançados com marcadores biológicos que foram apresentados no 46º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica, em Salvador, na última semana, pelos pesquisadores Carlos Senne e Gustavo Bruniera, de Campinas, com o intuito de ajudar a diagnosticar cada vez mais cedo as doenças que acometem o sistema nervoso central.
Eles foram responsável pela palestra “Biomarcadores de Alzheimer em líquido cefalorraqueano”. O trabalho deles é baseado na análise do líquor, feita em equipamentos de alta tecnologia, que quantificam as mínimas variações das baixas taxas de peptídeo beta amilóide, associadas às altas taxas de Tau e Tau fosforilada – os cientistas acreditam que estas proteínas presentes no cérebro são as responsáveis pelo surgimento da doença.
“Essas associações estão diretamente relacionadas à demência de Alzheimer entre 80 e 90% dos casos”, explica Bruniera. Um outro estudo sobre a prevenção da doença está sendo desenvolvido por pesquisadores americanos, com patrocínio do Instituto Nacional de Saúde (NIH), que recentemente anunciou o projeto como integrante do Plano Nacional para Tratar a Doença de Alzheimer.
Segundo os estudiosos, o objetivo é retardar o início do tratamento da doença, ao privilegiar a prevenção com base em alguns sintomas encontrados em pessoas cujo histórico genético já as predispunha a desenvolver o Alzheimer. No estudo, que está em fase 2, com um grupo de pessoas potencialmente capazes de ter a doença já está sendo testado o uso do crenezumab – um anticorpo monoclonal humanizado que visa agir na beta amilóide.
Identificação precoce
O único equipamento capaz de auxiliar a identificar a doença e determinar o estágio em que ela está, hoje, é o Pet/CT, que está disponível no Centro de Diagnóstico e Imagem da Santa Casa, de Votuporanga, o qual reúne tomografia computadorizada e uma ressonância magnética, segundo o radiologista Paulo Togni.
Na prática, esse equipamento inovador de radiologia nuclear, une as imagens do sistema metabólico a imagens anatômicas, obtidas através do sistema convencional de tomografia computadorizada. Esse cruzamento de dados permite uma terceira imagem, capaz de traçar tanto a presença quanto a evolução de doenças crônicas como câncer, Alzheimer e epilepsia. “Os métodos radiológicos convencionais nos mostram a forma, enquanto o PET agrega informações de função, o que ajuda a decidir qual o tratamento mais indicado.
Daí o casamento perfeito entre métodos PET e outros sistemas de radiodiagnostico”, diz o radiologista.Enquanto outras novidades não chegam, o neurologista Rodrigo Rizek Schultz, do Núcleo de Envelhecimento Cerebral da Universidade Federal de São Paulo (Nudec-Unifesp) recomenda cautela e ajustes na residência do paciente para melhorar a qualidade de vida do portador do Alzheimer.
Quando a doença está em estágio inicial, os cuidados são mais com prevenção de queda, mas, em estágios mais avançados, é necessário redobrar a atenção, pois a pessoa começa a ter os primeiros problemas de memória. Para ajudar nesta tarefa, um site – www.doencadealzheimer.com.br – foi desenvolvido para auxiliar o usuário. O portal mostra como é possível preparar a casa e evitar riscos.
Segundo o neurologista Eduardo Silva, do Centro Cérebro e Coluna, de Rio Preto, a perda de capacidade cognitiva humana acontece, normalmente, após o período de menopausa ou andropausa, quando a produção de hormônio diminui. No entanto, além da idade, outros fatores contribuem para isso, como os genéticos e comportamentais ambientais.
O primeiro, como o nome supõe, já está com o indivíduo desde o nascimento, enquanto os fatores comportamentais ambientais são determinantes para a perda ou prolongamento da capacidade cognitiva. “Quanto mais uma pessoa tiver uma vida saudável e com atividade mental ativa, além de controle emocional, mais tempo manterá suas capacidades cognitivas, como atenção, concentração, memória e lucidez”, diz Silva.
Ativar o cérebro para afastar a doença
No intuito de manter a doença bem longe, quem resolveu investir na ativação do cérebro foi o corretor de imóveis José Maestrelli, que resolveu se matricular em um curso de inglês. Ele explica que não tem pretensão curricular nenhuma ao aprender o novo idioma. Sua ideia principal com o desafio é melhorar o desempenho de seu cérebro. “Já havia percebido que minha memória estava começando a ‘falhar’”, diz. “Depois que me matriculei no curso, há quase um ano, já consigo perceber as melhoras, além dos benefícios culturais que isso me proporciona, claro”, diz.
Para o neurologista Eduardo Silva isso acontece porque o cérebro é como qualquer músculo de nosso corpo, então, quanto mais ativado, mais se desenvolve. “O cérebro tem uma grande reserva de neurônios que, a partir do momento que são estimulados, formam novas sinapses, capazes de aumentar a capacidade cerebral”, explica. “No aprendizado de uma nova língua, há estímulos das áreas responsáveis pela visão, audição, cinestesia, linguagem, associação, atenção, interpretação e codificação”, afirma o médico.
“É um público com perfil bastante específico, então as aulas e a metodologia devem ser adaptadas para eles”, resume Daniel Rodrigues, diretor da CCLi Consultoria Linguística, que ainda enaltece um estudo do professor Francisco de Brito, da Unifesp, que revela que não há impedimento cognitivo nenhum em aprender coisas novas depois de certa idade: pelo contrário, só há benefícios. “Se você já tem 50 ou 60 anos e quer se matricular em um curso, não há razão para achar que o tempo já passou. Você ganha qualidade de vida e saúde com isso”, finaliza.