Aprender é um verbo que esteve sempre presente na história do pianista, escritor e tenente aposentado do Corpo de Bombeiros José Afonso Imbá, 84 anos. De origem pobre, Imbá é apaixonado pela música desde criança. Na infância, porém, não teve condições de estudar piano, o que conseguiu na vida adulta. Com muita persistência, se formou pianista depois da aposentadoria, há 15 anos, pelo Conservatório Musical Etelvina Ramos Vianna, em Rio Preto.
“Imagina eu, um bombeiro, acostumado com coisas pesadas, estudando piano. Muitos exercícios eu não conseguia fazer, meus dedos eram duros. Eu olhava as mocinhas tocando com a maior facilidade. Mas eu recebi muita força e estudava dia e noite”, recorda. A trajetória do incansável Imbá como músico inclui uma apresentação no Memorial da América Latina, em São Paulo, no ano 2000, quando representou a cidade no Mapa Cultural Paulista. Há cerca de dois anos, sua carreira foi interrompida por uma doença chamada neuropatia crônica, que o deixou vários meses imobilizado numa cama.
Ele surpreendeu a equipe médica e a família, e, ano passado, voltou a se locomover e a tocar piano. “Fui indo, aos trancos e barrancos, morrendo e ressuscitando várias vezes, mas nunca abandonei meu ideal”, resume. Sempre com a cabeça fervilhando de ideias, com sua recuperação, Imbá voltou a ser aprendiz. Inscreveu-se no Projeto Escola de Escritores, idealizado pelo professor de Letras João Paulo Vani. Durante um semestre, frequentou a sala de aula para aprender como concretizar seu desejo de publicar um livro infantil. Ele também fez um importante trabalho de valorização da cultura africana que incluiu a autoria de duas peças de teatro.
Durante as aulas na Escola de Escritores, sua experiência foi exemplo para os outros alunos, segundo o professor Vani. Casado com Évora Rosa Imbá, 84, no fim de dezembro, quando o casal comemorou 50 anos de união, Imbá escreveu um poema em homenagem à companheira. “Sou um romântico.” Outra rio-pretense, a advogada Ivanete Vetorazzo, 70 anos, não conseguiu ficar parada ao sabor da sua aposentadoria como procuradora federal. Voltou aos bancos da sala de aula, desta vez para aprender inglês, com afinco.
As aulas ficam até mais leves
Segundo o professor Vani, a presença de alunos da terceira idade torna as aulas mais leves. “Eles têm muita bagagem a oferecer e sempre trazem elementos referentes ao que viveram para dentro da aula, e de uma forma bastante tranquila.” A advogada e procuradora federal aposentada Maria Ivanete Vetorazzo, 70, começou a trabalhar aos 21 anos. Depois da aposentadoria no serviço público, ela não se intimidou e se propôs a estudar coisas novas. Fez um curso de marcenaria no Senai e coloca em prática o que aprendeu fazendo pequenas peças, que costuma dar de presente a amigos e parentes. “Sou uma pessoa bastante ativa, e a marcenaria é um hobby.”
Há dois anos e meio, toda terça-feira, ela ainda frequenta uma sala de aula, dessa vez, para realizar um desejo antigo: aprender inglês. “Sempre tive vontade e agora encontrei uma escola onde me sinto bem”, diz ela, que costuma fazer viagens internacionais com um grupo de amigas da mesma faixa etária. A mais recente, ano passado, foi à Turquia.
Em Londres, arrasando no inglês
Aos 67 anos, a aposentada Elisa Yaemi Nomiyma, é um dos três mil alunos que já passaram pela Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), no campus da Unesp em Rio Preto. Lá, é possível fazer cursos de idiomas de graça, como inglês, espanhol e francês, além de atividades como computação e dança de salão. Elisa tem nível de inglês avançado, e o que aprendeu já pôs em prática numa viagem à casa do filho que mora em Londres, em 2009. “Na primeira semana saía só com meu filho e minha nora. Depois, pensei: está na hora de sair sozinha. Então consegui me virar. Andava na rua e conseguia ler as placas. A sensação é muito boa.”
As aulas são ministradas por voluntários, e o objetivo é proporcionar o acesso de maiores de 45 anos à universidade, para participação em atividades educativas, sócio-culturais e de ação comunitária. Em Rio Preto, outro projeto propicia gratuitamente a idosos a experiência de frequentar uma sala de aula: é o Paulo Freire: Analfabetismo Zero, da Secretaria de Educação. A cada ano, uma média de 90 idosos que nunca aprenderam a ler e escrever passa pelo projeto, segundo o gerente de educação de Jovens e Adultos, João Ernesto Nicoleti. “Inicialmente existe uma barreira, que é a falta de confiança. Mas depois que ela é vencida tudo fica mais tranquilo. A relação de confiança com o professor torna-se excelente e a força de vontade, muito grande”, diz.