Desde pequena, a aposentada Iraci Alves Martins, 81 anos, tinha um espírito de aventureira. Nessas andanças, ela, o marido Raul Gomes da Silva, 96 anos, e os 14 filhos resolveram desbravar uma parte de Rio Preto que até então não era explorada. Foi por volta de 1979 que o casal comprou um terreno em meio a pastos verdes, onde a energia elétrica não tinha chegado e muito menos vizinhos.
Com o passar dos anos e sob a iluminação de lampiões, lamparinas e velas, ela e a família acompanharam o nascimento da avenida da Luz, via que será a protagonista da última reportagem do ano da série “Rua da Gente”.
Atualmente, a avenida é dividida pela rodovia Washington Luís (SP-310). De um lado está o trecho que passa pelo bairro Jardim Maracanã, onde dona Iraci mora. Ela gosta tanto de viver nessa via que diz, com um sorriso no rosto, daqueles que iluminam o dia: “Só saio daqui para morar no São João Batista (cemitério de Rio Preto)”.
Há 34 anos, a tranquilidade, a segurança e facilidade de acessar os outros bairros de Rio Preto são alguns dos motivos que fazem a aposentada não querer sair da avenida. “Não me lembro o porquê deram esse nome para a avenida. Só sei que aqui é um ótimo lugar para se viver. Mesmo o asfalto não tendo chegado só na minha casa, que ainda não tem numero também. O importante é que aqui vivo em paz com o meu marido e dois filhos.”
A calmaria citada por dona Iraci é visível. Mesmo com algumas empresas na parte da avenida, perto da marginal da rodovia, o trecho mais para o meio e fim do bairro é quase que uma escuridão. Não que falte energia, garantida por um linhão da CPFL composto de quatro grandes torres, que passam pelo canteiro da avenida.
O fato é que pouco se vê pessoas na via. “Não tenho problema com vizinhos. A maioria trabalha fora o dia inteiro e só vem à noite para dormir. O que se vê por aqui é mais carros passando”, conta a aposentada, sentada naquelas cadeiras de varanda, embaixo de uns coqueiros, na frente da casa. A paixão de morar na avenida da Luz contagiou até uma das filhas de dona Iraci, que comprou um terreno ao lado da casa de mãe. “Ela sempre gostou de morar aqui. Tinha um terreno aqui do lado do meu e o preço estava bom. Não tinha por que ela não ficar aqui.”
Ainda no trecho que passa pelo bairro Jardim Maracanã, quem também mora com os quatro filhos é o comerciante Claudio de Oliveira, 53 anos, que fornece frutas para os mais balados restaurantes, bares e baladas. “As melhores frutas que abastecem Rio Preto saem da avenida da Luz”, diz o comerciante, sorrindo.
Há dez anos ele mora com os filhos na via e também não tem intenção de mudar de endereço. “Tudo bem que minha casa fica de esquina e acabo tendo dois endereços, mas a avenida da Luz é o meu xodó. A calmaria e tranquilidade são os fatores que me encantam. Daqui, consigo desenvolver meu trabalho facilmente, já que é fácil para acessar a rodovia e me locomover para os outros bairros da cidade”, destaca.
No Alto Rio Preto, surge o comércio
Do outro lado da rodovia Washington Luís (SP-310) está o trecho da avenida da Luz que passa pelo bairro Alto Rio Preto. Ela começa na avenida Bady Bassitt, passa pela lateral do supermercado Pão de Açúcar, faz uma pequena curva e vai até a marginal da rodovia, próximo da pastelaria Rezende, na marginal da rodovia.
As casas que compõem o trecho que passa pelo Jardim Maracanã dão lugar a comércios na parte do Alto Rio Preto. Basicamente são clínicas, salas disponíveis para aluguel, escritórios e academia. Em meio a esses empreendimentos está a CCLI Consultoria Linguística, que oferece desde curso de idiomas até a produção de material didático.
O empreendimento está há quatro anos na avenida da Luz. Para o diretor da CCLI, Daniel Rodrigues, é característico da via a facilidade de acesso, com um trânsito leve. “É uma avenida relativamente calma e de fácil acesso, com grande facilidade de estacionamento. Além disso, há nas redondezas outros empreendimentos que valorizam a região e tornam um bom ponto comercial.” O Centro de Intregração Empresa Escola (CIEE) é outro empreendimento que está instalado na avenida e tem como objetivo iluminar o futuro de estudantes de nível médio, técnico e superior de Rio Preto.
AACD é luz no fim do túnel para crianças deficientes
A família do pequeno Arthur Tonioli Martins Arroyo, 7 anos, encontrou no fim da avenida da Luz apoio suficiente para enfrentar a doença do menino, que ainda não possui um diagnóstico exato. Isso porque logo depois da casa da dona Iraci, no bairro Jardim Maracanã, a via se transforma em uma avenida sem canteiro que leva para um campo verde. Lá no fundo está instalada a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Há dois anos, o menino começou a cair com muita frequência. Durante um ano e meio, passou por diversos médicos até que chegou na AACD. “Nós fomos muito bem acolhidos por toda a equipe. O Arthur faz fisioterapia aqui. Eu e meu marido recebemos assistência psicológica e amparo para conseguir entender e conviver com a situação”, diz Erika Renata Tonioli Arroyo, 36 anos, mãe do menino.
Como toda criança, Arthur é extremamente alegre e esforçado. Durante a reportagem, ele mostrou determinação ao desenvolver as atividades propostas pela fisioterapeuta. “Ele leva uma vida normal, dentro das limitações dele. O desenvolvimento cognitivo dele é ótimo. Ele frequenta a escola normal e é o querido da turma”, destaca a mãe.
Arthur representa os 2 mil pacientes que tem na AACD uma luz no fim do túnel. Atualmente, 83 pessoas, entre voluntários e profissionais, prestam atendimento na associação, que foi fundada em 2000. São atendidas crianças de Rio Preto e região. De acordo com a presidente da AACD, Adriana Cirelli, a localização na avenida da Luz é uma dificuldade. “Acabamos muito escondidos. Várias pessoas ligam e falam que estão na avenida e não acham a gente.”