Quando o assunto é Copa do Mundo de futebol, todo mundo se interessa. Mas e um campeonato de livros? Essa é a ideia da Copa de Literatura Brasileira, criada em 2007 por Lucas Murtinho, economista, editor externo da editora Agir e tradutor da Rocco. São 16 obras, que são escolhidas de forma “bem pouco científica” (como o próprio site do concurso diz) entre romances brasileiros atuais, que disputam o prêmio em rodadas.
A disputa ocorre anualmente, durante quatro meses. O hall de campeões conta com Música Perdida, de Luiz Antonio de Assis Brasil (2007), O Filho Eterno, de Cristovão Tezza (2008), e Flores Azuis, de Carola Saavedra (2009).
A copa funciona assim: a cada jogo, dois livros se enfrentam. O vencedor passa para a próxima etapa, e o perdedor é eliminado. Cada batalha é decidida por um jurado, que escreve uma resenha justificando o seu voto, publicada no site da Copa. Na grande final, todo o juri elege o campeão.
Murtinho confessa que a seleção de livros e de jurados é “bangunçada”. Podem participar amigos, indicações de amigos ou até comentaristas de copas passadas. “Gostamos de ter um corpo bastante variado, com escritores, leitores, acadêmicos, blogueiros”, diz. Já fizeram parte do júri escritores como André Sant'anna, Luiz Antonio de Assis Brasil, Nelson de Oliveira e Sérgio Rodrigues.
Em relação às publicações, é feita uma lista prévia pelos organizadores da copa de até 30 obras lançadas naquele período. A lista é apresentada aos jurados, que a discutem e votam em seus livros preferidos. Também há o cuidado de não se escolher muitos livros de uma mesma editora.
Esse ano participam obras como O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho, e Azul-corvo, de Adriana Lisboa, e jurados como o jovem escritor Antônio Xerxenesky e o blogueiro Bernardo Brayner.
A iniciativa foi livremente inspirada no Tournament of Books, organizado pela revista virtual americana The Morning News. Quando a Copa começou, Murtinho estava no meio de um mestrado de edição em Paris e percebeu que estava mais bem informado sobre o mercado editorial americano e francês do que o brasileiro. “Era uma forma de me forçar a saber o que estava acontecendo por aqui”, lembra.
Outro objetivo da ideia é debater os romances brasileiros contemporâneos e questionar a importância dos prêmios literários, criando uma opção que o tradutor chama de “prêmio literário absurdamente arbitrário e injusto”.
Apesar da honestidade dos organizadores sobre a parcialidade inevitável das rodadas, muitos autores se sentem ofendidos quando eliminados. “É compreensível, mas infelizmente muitos não entram na caixa de comentários do site”, afirma o economista. É que, para o editor, os melhores momentos do campeonato acontecem quando os escritores aparecem dispostos a bater papo sobre o seu trabalho.
“Na primeiríssima Copa, teve autor que se mostrou um genuíno cavalheiro após ser eliminado na primeira rodada, e outro que transformou uma caixa de comentários em terapia de grupo”, conta.
Até 2009, Murtinho organizava o projeto sozinho. Porém, em 2010, o tempo ficou curto para dar conta de tudo. “Fracassei em tentativas desajeitadas de conseguir um patrocínio para a brincadeira, e o servidor que hospedava o site sumiu do mapa, levando todas as páginas da Copa com ele”, lamenta.
Era o momento de buscar outro organizador, e encontrou Lu Thomé, da Não Editora, que já desenvolvia uma proposta parecida no Rio Grande do Sul, com autores locais. Depois, juntou-se ao grupo Fernando Torres, escritor e advogado, que já tinha sido jurado da Copa em 2009. Atualmente, o trio leva adiante a Copa 2010/2011, que se encerra em 6 de junho e pode ser conferida em www.copadeliteratura.com.br.
[FONTE: Portal Terra]