Imagine a seguinte situação: a empresa onde você trabalha é vendida para uma multinacional e passa por profundas mudanças administrativas e culturais. E você, de um dia para o outro, se vê diante de um chefe gringo, que não fala português e que elege o inglês como a língua oficial do seu setor. A situação acima, nada rara em tempos de globalização, ocorreu de fato em um grande empresa da região e provocou uma corrida de funcionários monoglotas a uma escola de línguas de Rio Preto que desenvolve projetos para necessidades individuais. “No caso de um rapaz, da área de informática, fizemos um trabalho de imersão todos os finais de semana durante seis meses. Ele evoluiu muito, mas já tinha alguma base”, conta o coordenador do curso.
O fato, no entanto, é que não existe mágica quando se trata de conseguir destravar a língua e falar com certa fluência em um novo idioma. Sair do estágio do “the book is on the table”, por exemplo, exige investimento pesado em tempo e dinheiro. Segundo especialistas de Rio Preto ouvidos pelo Diário, atingir um nível aceitável em inglês, francês ou espanhol, entre outras, demanda pelos menos 500 horas de estudo sério a um custo anual médio de R$ 3 mil em sala de aula coletiva.
Neste cenário, se a pessoa dedicar duas horas de aprendizado e treinamento por semana, ela vai levar três anos para se comunicar de forma satisfatória, o que totaliza um gasto de R$ 9 mil. Esse tempo pode ser menor, claro, mas vai depender de quantas horas mais a pessoa pretende reservar para atingir o seu objetivo. Aí, a evolução pode se dar em um tempo menor. Em aulas particulares, o tempo pode ser menor também, mas a variação de preço é maior, já que professor particular também é mais caro. E, claro, existe ainda a opção de se aprender um novo idioma em sua terra de origem.
Daniel Rodrigues, proprietário do CCLi, está no ramo há 10 anos e oferece o ensino de seis línguas. Devido às exigências do mercado, a língua da terra do tio Sam é a mais procurada. Ele ressalta que quanto mais horas de estudo e exposição diária ao idioma melhor será o aprendizado. Profissionais dessa área de ensino afirmam que o segredo do aprendizado é a exposição constante à nova língua de todas as maneiras possíveis. Marcelo Daniel de Oliveira é diretor-proprietário da Cia das Línguas, em Mirassol. Há 24 anos ele atua na área de ensino de língua estrangeira. Ele explica que para um bom aprendizado é necessário integrar quatro habilidades: auditiva, oral, escrita e leitura.
Para isso, é necessário estudar também fora do horário das aulas. Leitura é fundamental, mas há também outras formas para treinar o uso do novo idioma, como assistir a filmes no áudio original, sem legendas ou com elas na mesma língua da película. Esta também é a opinião do gerente acadêmico da escola Cultura Inglesa, Vinícius Nobre. Ele afirma que para relacionar tempo e investimento é preciso levar em consideração a disponibilidade, interesse e a necessidade do aluno.
Domínio estrangeiro faz toda a diferença
O mercado de trabalho exige candidatos preparados para cumprir seu papel na empresa. Conhecer profundamente uma segunda língua é dever para quem almeja cargos mais altos. De acordo com Ana Carolina Verdi Braga, diretora do Centro de Estudos Gente (Cegente), devido a globalização houve a necessidade de escolher uma língua entre todas as nações para facilitar a comunicação e o idioma escolhido foi o inglês.
Com as empresas de grande e médio porte possuindo filiais e clientes em diversas partes do mundo, saber inglês é obrigatório. “ Os candidatos precisam conhecer a língua inglesa para ter alguma chance de conquistar a vaga. Quem não adotar essa linguagem estará praticamente excluído da sociedade global e do mercado de trabalho.” afirma a diretora.
Ficar estagnado em apenas uma língua estrangeira e deixar de lado outros idiomas é um erro comum atualmente. Dominar uma terceira língua é um diferencial importante. Ana Carolina explica que além do inglês, saber espanhol é importante. “Quanto mais línguas o candidato falar, melhor.” diz
Nem só de inglês e espanhol vive o mercado de trabalho. Com o nítido crescimento da China, muitas empresas brasileiras já negociam com o país asiático. Investir no mandarim é um diferencial importante hoje. “Atualmente, com a China despontando como um mercado emergente, os profissionais que investem no aprendizado dessa língua sairão à frente de outros.” conclui Ana Carolina.
Fazer as malas e deixar a terra tupiniquim por algum tempo faz a maior diferença no currículo. Conviver com a cultura proporciona um aprendizado que não se esquece mais. Ana Carolina afirma a diferença que isso faz na hora de escolher um profissional. “Um candidato que morou em outro país por no mínimo seis meses possui um inglês muito bom. Isso faz toda a diferença.”
Quanto mais cedo melhor
Pensando na aquisição de uma nova língua pelas crianças, muitas famílias as matriculam bem cedo para estudar uma língua estrangeira. A psicóloga Mônica Valêncio, 41, incentiva o filho Guilherme Valêncio, 9, a estudar outra língua. Ele está no nível de iniciante, mas já sabe identificar muitas palavras. Os jogos virtuais são uma motivação a mais para Guilherme estudar inglês. “A escola é muito legal, eu aprendo brincando e agora já consigo entender os games que gosto.” diz o menino.
Mônica não fica para trás e, após estudar francês, ela decidiu aperfeiçoar seu inglês com aulas de conversação na mesma escola do filho. Ela escolheu essa modalidade por já possuir um bom domínio da língua. Seu objetivo é falar e entender inglês naturalmente. Mesmo com um alto nível de conhecimento, ela segue à risca a recomendação dos mestres mantendo contato cotidiano com a língua e não para de aprender, “Todos os dias leio textos em inglês para manter o contato com o idioma,” diz Mônica
É preciso provar que sabe
Não basta dizer que sabe outra língua, é preciso provar isso. Gabriela Imbernom, linguista aplicada e gerente pedagógica do Centro de Consultoria Linguística (CCLi), diz que existe um teste utilizado para conhecer o nível de proficiência em inglês chamado de “Test of English for International Communication” (TOIEC). Algumas escolas de idiomas o utilizam para conhecer melhor as necessidades de seus estudantes.
Cargos como gerência ou diretoria exigem de seus candidatos uma média de no mínimo 600 pontos neste teste de proficiência para continuarem no processo seletivo. Este nível, segundo o quadro comum europeu chamado de B1, exige que o candidato seja capaz de compreender um vasto número de textos longos e complexos, reconhecendo os significados implícitos. Quem quer chegar ao estágio B1 precisa passar por, pelo menos, 180 horas de estudo, no mínimo.
Fora é mais rápido
Outra forma de aprendizado de uma nova língua é o intercâmbio. Esta experiência proporciona, além do enriquecimento do currículo, conhecimento de uma nova cultura e um novo povo. Carla Daud, diretora da Central de Intercâmbio, diz que um mês morando fora do Brasil equivale a dois anos de cursos de idioma. “Isso se deve ao contato integral com a cultura e a língua,” diz a diretora.
A partir dos 16 anos já é possível participar de intercâmbios. O período das férias escolares, de dezembro a fevereiro, é o recomendado para a viagem. Quem trabalha e não dispõe de tanto tempo, também possui uma opção de intercâmbio fechando um pacote de quatro semanas. Como local de residência em outro país é possível optar entre casas de família, onde o contato com o idioma e cultura local é total, ou então em moradias estudantis, onde irá dividir o apartamento com outros estudantes de diversas nacionalidades. O período do intercâmbio pode chegar a um ano, dependendo da disponibilidade, objetivo e nível do idioma do interessado. “Para quem não sabe nada do novo idioma, um ano é o tempo ideal para voltar com total fluência escrita e verbal,” garante Carla.
Mas não pense que o intercâmbio é apenas um passeio, para aperfeiçoar o aprendizado, os alunos, além de ter a experiência cotidiana da nova língua, também são matriculados em cursos de idiomas. Os valores são parecidos com um curso de aulas particulares. “Para um mês de curso com acomodação em casa de família, com meia pensão (café da manhã e jantar) inclusos, em cidades como Toronto (Canadá), Dublin (Irlanda), St Julians (Malta) ou Cape Town (África do Sul), o valor fica por volta dos R$ 5 mil (no câmbio de R$ 2,09). Fora isso acrescenta-se a passagem aérea, por volta de R$ 2,3 mil.” diz Carla.
Para ter experiência de vida em um país estrangeiro, vivenciar uma cultura diferente e aperfeiçoar o inglês, a professora Laura Helena Lopes, 36, viajou à Inglaterra no final de 2012, onde ficou em torno de dois meses. Ela morou em Oxford, na casa de uma viúva, onde estudou, participou da rotina da casa e conheceu os costumes do país. Laura ressalta a boa qualidade do transporte coletivo britânico. “Os ingleses saem para trabalhar cedo. Usam, na maioria das vezes, o ônibus. O transporte público é ótimo e há acessibilidade total pela cidade.”
Ela afirma que conversar com a família, com pessoas, nas lojas, e assistir TV em inglês, proporciona uma imersão total no idioma. Todos esses fatores contribuíram muito com sua carreira profissional e ampliaram seu conhecimento da língua “Eu leciono inglês e preciso passar um pouco de vivência na cultura para o meu aluno.” diz. Laura afirma que viajou conhecendo o idioma, assim, sua primeira semana foi bem tranquila. Ela é uma defensora do intercâmbio. “Essa é uma experiência maravilhosa desde que o intercambiário tenha um conhecimento básico da língua para poder sobreviver nas primeiras horas de convivência no novo país”.
Fonte: Diário da Região