Lauro Maia Amorim, 37 anos, terminou o curso de letras-tradutor, defendeu tese de mestrado, fez doutorado nos Estados Unidos, publicou dois livros e se tornou professor da Unesp. Tudo em 10 anos. Ele é um exemplo completo da evolução da educação em Rio Preto na última década. No período, dobrou a quantidade de moradores com diploma de faculdade e quase triplicaram os títulos de mestre e doutor.
Até 2000, o percentual de rio-pretenses que tinham concluído pelo menos um curso superior era de 7,3%, equivalente a 26.108 pessoas. Em 2010, o índice saltou para 12,8% – 52.440, a maioria mulher. O aumento colocou Rio Preto em patamar de destaque, à frente das médias do Estado de São Paulo (9,5% dos moradores têm diploma) e Brasil (6,6%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O especialista em educação Carlos da Fonseca Brandão, da Unesp de Assis, afirma que o mercado de trabalho exige cada vez mais essa qualificação, o que empurra as pessoas para a faculdade. “É um requisito mínimo também para a maioria dos concursos públicos.” A equação é simples: quanto mais se estuda, maior é a possibilidade de ganhar bons salários, obter reconhecimento e conquistar os melhores postos.
A ascensão profissional de Amorim ocorreu graças à educação. Além de ser extremamente dedicado, ele sempre aproveitou o que a universidade e as agências de fomento oferecem. Nos quatro anos da graduação, em período integral, morou no alojamento estudantil gratuitamente. Não teria condição de pagar aluguel. “O estudo mudou a minha vida para melhor”, diz o professor do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários.
Também colaboram para aumentar o número de pessoas com curso superior a ascensão da classe C, o aumento no poder de compra, programas educacionais como Prouni, e expansão da oferta. Dalete Ferreira, 40 anos, está realizando o sonho da faculdade. No fim do ano, ela termina o curso de serviço social na Unorp. Para pagar a mensalidade de R$ 249, faz pão, rosca, bolo, bolachas e vende tudo no Parque da Cidadania, onde mora, e adjacências. Diz que valeu a pena esperar. Apesar de ainda não ter concluído a graduação, já percebe as mudanças.
“Tem hora que nem acredito que cheguei até aqui. Não foi fácil. Estou realizando um sonho. Primeiro conheci a prática. Depois, a teoria. Hoje já consigo me colocar, de igual para igual, com qualquer pessoa.” Dalete é casada, mãe de três filhos (dois são casados) e morou sete anos na favela do Triângulo, no João Paulo 2º.
Nove instituições de ensino, entre as quais três públicas (Unesp, Fatec e Famerp), disponibilizam 160 opções de cursos superiores em Rio Preto para as principais áreas do saber. Somente 15, no entanto, são de graça, como medicina, matemática e enfermagem. Direito, administração, engenharia e ciências da computação estão entre os mais procurados. Em média, duram quatro anos.
Na Unesp, são 2.025 alunos em nove graduações, entre as quais matemática, letras e química. A cada ano entram 460 e se formam 300. Engenharia de alimentos é o mais procurado – 23 candidatos por vaga. Segundo a supervisora da graduação, Mônica Regis, a universidade registra um dado importante: 55% dos estudantes são originários da rede pública. “Isso se explica em razão dos incentivos, como inscrição e cursinhos gratuitos.”
A Famerp tem 620 alunos, sendo 387 na medicina e 233 na enfermagem. Todo ano são colocados no mercado 64 médicos e 60 enfermeiros. Na Fatec são 800 alunos nos cursos de tecnologia em agronegócio, informática para negócios e análise e desenvolvimento de sistemas. Oitenta se formam por semestre.
“Rio Preto registra melhora importante na educação em apenas dez anos. Mas ainda assim há um longo caminho a percorrer. Na América do Sul, o Brasil está atrás de países como Chile e Argentina. Em torno de 20% dessas populações já têm curso superior. É necessário estabelecer metas ambiciosas de escolaridade. Mas uma coisa é certa: estamos no caminho certo”, afirma o especialista.
São mais mestres e doutores também
Não é só a graduação que coloca Rio Preto em destaque. O mesmo desempenho se observa no mestrado e doutorado, que formam recursos humanos para o ensino superior. O primeiro é voltado para quem deseja lecionar. O segundo, para a pesquisa. É mais aprofundado e especializado.
No período de dez anos, entre 2000 e 2010, aumentou de 1.069 para 2.804 o número de rio-pretenses com um dos dois títulos. O município tem hoje um morador titulado para cada 145. É o que informa a estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A média é superior a do Estado de São Paulo (um cada 167) e Brasil (243). Dez anos atrás, no entanto, a proporção de rio-pretenses titulados era muito inferior: um a cada 335. Uma explicação para o aumento é o investimento no setor e ampliação na oferta de programas. Em Rio Preto, a Unesp e a Famerp mantêm reconhecidos programas de mestrado e doutorado.
Atualmente, as duas universidades têm 1.156 mestrandos e doutorandos, que desenvolvem importantes pesquisas para entender melhor, entre outros assuntos, genoma, biocombustível, malária, dengue, célula-tronco, epilepsia, ácaros e a genética dos tumores. São gratuitos.
Estão disponíveis 11 áreas: ciências da saúde (Famerp) e letras, genética, matemática, biofísica molecular, engenharia e ciência de alimentos, estudos linguísticos, biologia animal, microbiologia, ciência da computação e química (Unesp). O mestrado deve ser concluído em até dois anos. O doutorado em quatro.
O pró-reitor de pós-graduação da Famerp, Domingo Braile, afirma que a instituição oferece o curso de ciências da saúde, com duas vertentes: medicina interna (só para médicos) e ciências correlatas (profissional de qualquer área). Para participar, no entanto, há uma exigência: desenvolver projeto que envolva saúde.
“Esses programas são importantes e trazem grande contribuição para diferentes setores. A cidade passa a ser um polo de conhecimento. Por esse motivo, somos exigentes. Somente os melhores trabalhos são aceitos”, afirma Braile. Um programa de mestrado para enfermagem será aberto. Em setembro ocorre a seleção.
Na Unesp, são 906 pesquisadores. Segundo a supervisora de pós-graduação, Rosemar Rosa de Carvalho Brena, 60% deles fizeram a graduação na própria instituição. “São incentivados a ter contato com a pesquisa, com projetos de iniciação científica, desde o começo.” Nem todas as vagas de mestrado e doutorado, no entanto, são ocupadas. “Às vezes falta qualificação. O processo de ingresso é rigoroso.”
Segundo Rosemar, cada programa tem critérios diferenciados para ingresso. Normalmente aplicam prova escrita e de proficiência em outro idioma. O comum é fazer mestrado primeiro e depois doutorado. Mas é possível partir direto para a segunda opção. Para tanto, é necessário atender a vários requisitos, como publicação de artigos científicos, aprovação de bolsa em agência de fomento e projeto de qualidade.
Jovens estão preocupados em turbinar currículo
Filha de comerciantes, Caroline Bonfim, 27 anos, estuda com afinco para se tornar doutora antes dos 30. Fez biologia na Unirp e foi contratada pela Unesp de forma temporária para operar uma máquina no laboratório de estudos genômicos. Só que foi muito além. Acabou aprovada na própria Unesp para um programa de mestrado, concluído em 2008, e está no terceiro ano do doutorado. Ela pesquisa o HPV, uma doença sexualmente transmissível chamada de vírus do papilo humano. Seu trabalho investiga crianças infectadas na hora do parto.
“Não imaginava que iria chegar tão longe na área científica. Essa trajetória representa ascensão profissional. Até agora, investi tudo no currículo, que já é bom para uma pessoa com menos de 30 anos. Quando terminar a pesquisa vou decidir o que fazer.” Caroline recebe R$ 2,9 mil mensais de bolsa da Fapesp, a agência do Estado de São Paulo de fomento à pesquisa. Durante todo o trabalho, que pode durar até quatro anos, terá o auxílio. “Dá para me manter e estudar o tema com tranquilidade.”
Daniel Fernando Rodrigues tem 35 anos e também já se conscientizou da importância de se reciclar e sempre buscar o novo para ampliar horizontes e assim crescer profissionalmente. Ele concluiu o curso de letras-tradutor, defendeu tese de mestrado e fez MBA.
Paralelamente, abriu uma empresa de consultoria na área de línguas em Rio Preto. Reconhece que o conhecimento adquirido em sala de aula (a base teórica) foi determinante para ter a ideia de abrir o estabelecimento de ensino e o mais importante: ser bem-sucedido.
“Sem dúvida, a graduação mudou a minha vida. No mestrado, por exemplo, pesquisei como ajudar o aluno a falar a língua estrangeira. Já o MBA foi na área de gestão. Juntando tudo isso, posso dizer que encontrei um novo campo. Sem essa base, dificilmente teria um diferencial”, afirma Rodrigues. Como tem em mente a importância de aprender, ele estabeleceu na empresa uma política de aprendizagem contínua para os funcionários. “É necessário dialogar sempre com o novo.”
Fonte: diarioweb