Num mercado cada vez mais competitivo, o inglês fluente e uma especialização são mais que vantagens na disputa por uma vaga de trabalho ou por um cargo e salário melhores. Quando aliadas a uma experiência fora do país, estas condições se tornam um diferencial capaz de colocar o candidato bem à frente de seus concorrentes.
Em Rio Preto, esta valorização começa a dar sinais. Pelo menos três empresas especializadas em intercâmbio (STB, CI e EF) afirmam que além de estudantes, também buscam os cursos no exterior profissionais de diferentes áreas que querem aperfeiçoar uma língua estrangeira ou se aprofundar em algum aspecto de sua formação.
Para isso, as agências especializadas em intercâmbio oferecem diferentes pacotes para esse perfil de cliente, geralmente já mais maduro, com experiência de mercado e que prioriza temporadas mais curtas e intensas. Pode-se afirmar que os intercâmbios se tornaram mais acessíveis nos últimos anos.
Fernanda Pajares, do marketing da Student Travel Bureau (STB), que a busca por cursos de especialização, equivalentes a pós-graduação ou extensão, apresentou um crescimento de cerca de 30%, nos últimos anos. Em Rio Preto, onde a empresa atua há 14 anos, não há números sobre a extensão ou especialização, mas o crescimento foi gradual: 30%, de 2010 para 2011, e 20%, de 2011 para 2012.
De acordo com Lara Guimarães Accorsi, gerente da STB em Rio Preto, a maior demanda do setor é reflexo da facilidade do processo. “A oferta cresceu muito, o que tem facilitado. Temos muitas opções de escolas para quem quer viajar e conseguimos atender a todos bolsos e gostos”, diz.
Para Fernanda, um dos motivos da procura por cursos de especialização ou extensão no exterior é a pressa de crescimento profissional. “Hoje as pessoas querem algo mais instantâneo. Um curso de inglês básico já não é o foco. A procura é por um diferencial, algo que agregue ao currículo”, garante.
Letícia Matos, representante da EF (Education First), que está há dois anos e meio em Rio Preto, em parceria com a CCLi Consultoria Linguística, credita também o interesse crescente pelos resultados de sucesso registrados. “A partir do momento em que alunos fazem o intercâmbio e obtém sucesso, outros ficam sabendo do resultado e também passam a procurar os cursos”, diz.
Temporada fora amplia possibilidades
Passar uma temporada fora do país desempenha um papel importante não só na formação acadêmica do profissional, como também em suas relações pessoais. “A questão cultural é muito importante. Quando se mora por um tempo no exterior, o intercambista precisa lidar com pessoas diferentes e outros costumes. Isso desenvolve habilidades importantes para o empregador como a própria comunicação e liderança. É mais fácil aprendermos a liderar de uma forma bem rápida nestas situações, porque se não aprendermos, não sobrevivemos”, analisa a diretora do Centro de Estudos Gente (Cegente), Ana Carolina Verdi Braga.
Anderson Cleyton da Silva, superintendente de desenvolvimento interno da Rodobens Negócios e Soluções, afirma que uma experiência internacional não é ponto determinante na contratação, mas acrescenta um diferencial ao candidato. Ele é responsável pelo setor de seleção da empresa e diz que não adianta o candidato ter estudado fora do país se não tiver nenhuma outra característica de destaque. “Priorizamos o conjunto”, define.
A viagem para o exterior para estudar e se especializar foi o momento da virada na carreira de Fábio Kato, de 32 anos. Engenheiro por formação, Kato trabalhava como consultor de gestão, mas estava decidido a mudar. Em 2008, viajou para os Estados Unidos para fazer MBA, onde ficou dois anos estudando. Quando voltou, já estava com contrato de emprego na Rodobens Negócios e Soluções reservado. “Os benefícios de um MBA lá fora influenciam tanto o lado profissional quanto o pessoal. A grande vantagem, no primeiro, é a teoria.
Ganha-se um conhecimento muito grande com ótimos professores. É possível também criar uma rede de contatos com profissionais de diversas áreas e países, o que pode ajudar na recolocação no mercado de trabalho”, afirma Kato, hoje é diretor financeiro da empresa.
Ele relembra que durante o período em que ficou nos Estados Unidos tinha contato com a maior diversidade de pessoas. “É uma experiência inigualável. No meu caso, 40% dos alunos do curso não eram americanos.
Assim, em uma mesa era possível ter, durante uma conversa, pessoas de cinco continentes. Isso foi muito importante para minha evolução”.s.
De acordo com Luiza Vianna, gerente de produtos da Central de Intercâmbio (CI), empresa que tem uma unidade em Rio Preto há cinco anos, o investimento na busca por uma mudança profissional é uma tendência crescente também entre jovens em início de carreira, principalmente pelo temor criado após a crise de 2008.
“Os jovens profissionais querem algo que agregue em seus currículos. Com a crise, eles perceberam que precisam se mexer, que não há estabilidade garantida”, analisa. Para aqueles consideram fazer um intercâmbio, mas acham que o valor investido é muito alto, Kato diz que há facilidades. “No caso de MBA, as principais escolas americanas têm sistemas de financiamento para o curso inteiro”.
Primeiro cliente no intercâmbio
A advogada Tatiana Drudi encontrou em uma viagem para aperfeiçoar seu inglês o caminho que gostaria de seguir com sua carreira. “Não foi uma mudança profissional total, mas sim um aprendizado sobre a minha própria personalidade e qual a área do direto que eu gostaria de seguir”, conta.
Tatiana resolveu se especializar em direito internacional e em sua viagem a Londres já conseguiu seu primeiro cliente. “Meu cliente teve um problema internacional. Ele é pai de uma criança com uma brasileira. A mãe veio embora com a criança sem comunicar a mudança. Desta forma, ele precisava de alguém que conhecesse os trâmites da justiça brasileira para auxiliá-lo, parte em que eu pude atuar. Estas oportunidades surgem, mas eu não poderia ter dado continuidade e ter tido êxito sem a língua. Minha vida deu um giro de 360°”.
Médica ‘turbinou’ currículo em San Diego
Durante oito meses, a médica Bianca Rossi, de 34 anos, fez aperfeiçoamento na área de musculoesquelético em San Diego, na Universidade da Califórnia, nos EUA, o que para ela foi oportunidade única de interação com médicos de outros países e aprendizado aprofundado em uma área específica. “Essa experiência foi muito rica e agregou conhecimento e valores para minha carreira”, diz. O resultado prático para Bianca foi se sentir preparada para assumir a coordenadoria da área de Ressonância Magnética Osteoarticular da clínica Ultra-X, em Rio Preto.
“Aqui é um dos centros médicos mais reconhecidos na área de diagnóstico por imagem do Brasil. Hoje desenvolvo meu trabalho ao lado de uma equipe renomada e capacitada, com equipamentos de alta tecnologia”.Um dos fatores determinantes no ensino nos Estados Unidos é o estimulo e o valor dado à parte científica. “Com isso, os médicos têm mais oportunidades e condições de estudos, como a participação em projetos científicos, de novas descobertas e conhecimento em primeira mão.
E é justamente na parte da pesquisa científica que reside o grande diferencial na área de estudo de Bianca. “Posso dizer que em relação à tecnologia o Brasil não está tão atrasado. Muito pelo contrário. Temos praticamente as mesmas opções de equipamentos, sendo que a grande diferença é realmente a parte científica”. Na Califórnia, a médica teve a chance de estar no maior centro de captação de cadáveres dos EUA. “Isso proporciona muitos projetos e incentiva o trabalho de pesquisa e estudos especializados”.
FONTE: Diário da Região