Esse é o último ano para os brasileiros se adaptarem às novas regras de ortografia firmadas em 2008 pelo acordo ortográfico entre a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A fase de transição, que se iniciou em janeiro de 2009 e termina em dezembro de 2012, permite a mescla das duas formas. Isso vai acabar, mas será que os brasileiros estão preparados?
Para o professor de gramática do Cursinho Alternativo Marco Aurélio Rodrigues dos Santos, os alunos estão mais adaptados às regras. “No primeiro ano foi um choque, mas agora absorveram melhor.” As confusões e a insegurança, no entanto, ainda persistem. “Principalmente por medo de novas mudanças. Isso deixa os alunos ansiosos.”
As escolas e cursos para vestibular procuraram trabalhar as alterações nas regras desde que elas foram anunciadas. Quando foram anunciadas, as regras geraram um princípio de revolta nos alunos e, principalmente, nos vestibulandos. “Eles pensavam: eu já tenho tanta coisa para estudar agora vou ter que decorar novas regras e esquecer as que já havia aprendido?”
O objetivo do acordo é unificar a ortografia de países como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal e aproximar essas culturas. O Grupo Diário de Comunicação adotou as novas regras desde 1º de janeiro de 2009. Segundo o Ministério da Educação, apenas 0,5% das palavras foram atingidas. As principais diferenças são referentes à acentuação de algumas palavras e a sistematização do uso do hífen. Algumas mudanças foram pontuais, como a eliminação do trema e a inclusão das letras “k”, “w” e “y” ao alfabeto.
Mas outras alterações exigem reflexão e um pouco de costume para a adaptação. Alguns exemplos são a exclusão do acento em palavras como “ideia” e “joia” ou a retirada do acento para diferenciar o verbo da preposição “para”. As regras para o uso do hífen foram padronizadas, mas exigem cuidado, pois sempre existem as exceções.
“O uso do hífen é o que causa maior confusão. Antes da regra já era confuso,” diz Santos. As alterações também causaram estranheza. A maior delas, segundo o professor, é a retirada do acento circunflexo em verbos como “veem” e “leem”. Mas o que chamou mais atenção é a palavra “voo”.
Em busca do tempo perdido, eles fazem cursos
Os profissionais que já estão no mercado de trabalho estão correndo atrás do tempo perdido. A consultora de RH Elizandra Lopes é um exemplo. Em janeiro, ela fez um curso de uma semana para aperfeiçoar os conhecimentos sobre o acordo ortográfico. “Muita gente faz cursos de idiomas estrangeiros e isso é importante, mas se esquece de aprender o português,” diz.
Sabendo que a partir de dezembro o período de transição termina, Elizandra propôs à empresa em que trabalha (Bellman Nutrição Animal) para bancar um curso de atualização. A empresa aceitou e o que aprendeu, ela passou para o restante da equipe, de dez pessoas. As maiores dificuldades, segundo Elizandra, foram com a acentuação. “Porque um detalhe pode mudar tudo.” Mas a palavra que mais estranhou foi “autoescola”. “Em muitos locais a gente ainda vê da forma antiga.”
De acordo com a consultora de Língua Portuguesa da CCLi Consultoria Linguística Letícia Pereira Macedo, muitos profissionais não se preocuparam com as alterações e se acomodaram. São advogados, administradores e até escritores que agora vão em busca de cursos específicos. “Muita gente tem procurado a escola por saber que esse é o último ano de adaptação.”
A CCLi vai realizar um workshop hoje com carga horária de seis horas. O objetivo é conhecer e praticar as mudanças do acordo ortográfico. Estudantes, profissionais e demais pessoas interessadas podem participar. O valor do curso é R$ 210.
FONTE: Diarioweb