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Para traduzir uma obra literária, basta falar mais de um idioma?

 

Traduzir uma obra literária não é tão simples quanto parece. Conhecer profundamente um idioma diferente e gostar de literatura são aspectos fundamentais para o trabalho do tradutor, mas esses conhecimentos não bastam por si só. Há muitas técnicas e reflexões que o profissional da tradução deve saber para aplicar em seu texto.

Para falar mais sobre o assunto, a CCLi entrevistou o tradutor e professor da área de tradução da Unesp de Rio Preto Alvaro Hattnher, que explicou tudo sobre sua forma de trabalho. Confira:

Alvaro,  o que é a tradução literária? 

A tradução literária é, basicamente, a tradução de textos literários de qualquer gênero, seja poesia, prosa ou teatro, por exemplo, da língua em que foram originalmente escritos para qualquer outra língua. 

Quais as principais dificuldades que o tradutor literário encontra em seu trabalho?

Cada texto representa um desafio diferente para o tradutor, e as dificuldades variam imensamente. As principais estão certamente relacionadas às ocorrências de especificidades culturais e “idiomatismos”, que representam a falta de equivalência entre as palavras de uma língua e outra.

Como o profissional de tradução literária lida com esses “idiomatismos”?

Depende muito do posicionamento que o tradutor tem em relação ao ato de traduzir, mas acredito que as soluções dos problemas originam-se sempre na forma pela qual o tradutor lê/interpreta o texto a ser traduzido.

Então, o tradutor interpreta para fazer escolhas, correto? Como são feitas as reflexões para escolhas tradutórias na literatura?

Sim! As reflexões devem levar em consideração alguns aspectos: quem é o autor e qual sua inserção nas séries literárias nacional e mundial; quem é o público-alvo do texto que está sendo traduzido; de que maneira se estruturam o texto a ser traduzido, como pretendo traduzi-lo etc.

Quando o assunto é tradução, muito se fala sobre “fidelidade” do tradutor. O que você pode falar sobre isso?

Eu evito o uso desse conceito nas minhas aulas e nas discussões sobre tradução, já que acredito que não existe “fidelidade” em tradução, uma vez que não existe “fidelidade parcial”. Não faz sentido dizer que um texto é “razoavelmente fiel”, assim como não faz sentido dizer que uma mulher, por exemplo, está “razoavelmente grávida”. O tradutor deve procurar fazer uma leitura atenta e conscienciosa do texto a ser traduzido, buscando uma reescritura que possa vir a ser aceita pela comunidade de leitores à qual ele se destina.

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